08 DE MARÇO DE 2008, SÁBADO
A Renovação Comunista apela à convergência da Esquerda!
POR UMA RENOVADA REPRESENTAÇÃO DOS QUE RECLAMAM UMA NOVA POLÍTICA!
A RC vem a público declarar que a superação da crise em que o país mergulhou torna urgente que as forças à esquerda do actual governo do PS procurem um entendimento em torno de uma plataforma de políticas alternativas e de uma proposta de alternativa política.
A RC vem a público declarar que a superação da crise em que o país mergulhou torna urgente que as forças à esquerda do actual governo do PS procurem um entendimento em torno de uma plataforma de políticas alternativas e de uma proposta de alternativa política. É tal urgência justificada pela necessidade de superar o estado de degradação a que chegaram sectores essenciais da vida nacional, travar um ainda maior descalabro da acção governativa e impedir a repetição do expediente de alternância habitual entre forças do chamado bloco central a qual, a verificar-se de novo, poderia trazer o regresso da direita ao poder, porventura mais radicalizada em soluções pró-capitalistas - como anuncia - e com uma equipa de Governo seguramente ainda mais incompetente. Consciente das dificuldades do país e da grandeza do desafio que uma tal plataforma coloca, a RC declara-se disponível para participar em todas as iniciativas que visem um tal entendimento e empenha-se para que resultados concretos de edificação programática alternativa sejam efectivamente alcançados.
Novas e audaciosas soluções são necessárias para assegurar a adequada representação política dos que deixaram de se rever nas formações tradicionais, designadamente no PS de Sócrates, e assim fazer deslocar para a esquerda o perímetro e o eixo da governação do país. Sendo difícil uma tal recomposição torna-se fundamental debater sem exclusões ou exigências prévias, os figurinos que agreguem forças sem desrespeitar a pluralidade da esquerda. O objectivo será o de partir da diversidade de opiniões para uma plataforma e não impor condições unilaterias prévias, próprias de lógicas de grupo.
É naturalmente no plano programático de alternativa que o debate se deve centrar, antes mesmo da atenção ao elenco de soluções orgânicas concretas, na medida em que a viragem á esquerda passa por convencer a opinião pública de que a esquerda tem credibilidade para integrar o perímetro da governação, mostrando como são as suas propostas indipensáveis à boa governabilidade do país. Um programa e uma alternativa de política económica deve responder aos anseios populares de redistribuição social dos rendimentos, mas deve promover, igualmente, a expansão da economia não só a partir do investimento público, mas pela dinamização, reforma e reorganização da economia estatal, para aumentar a sua resposta, objectivos deveras indispensáveis, também, à dinamização de toda a economia nacional. Sendo porém a economia estatal um sector que o pensamento económico dominante arruma apenas no lado da despesa, omitindo o importantíssimo valor acrescentado que gera, importa restaurar esse valor para transformar o sector em alavanca da expansão económica global. Uma economia estatal alavanca de expansão impõe, naturalmente, uma remodelação da relação do governo e do Estado central para com as instituições e indústrias públicas, dotando-as de autonomia e responsabilização. Importa promover a participação dos seus trabalhadores na formatação dos destinos dos respectivos estabelecimentos, reproduzindo internamente a negociação e valorização que a nova economia pública possibilitará para assim mobilizar o génio criativo e o comportamento produtivo de toda a sua base laboral. A vasta remodelação do Estado e das indústrias públicas assim concebida suscita igualmente a organização e representação dos consumidores/contribuintes, desejavelmente numa base descentralizada e regionalizada. Para a Renovação Comunista é hoje possível apresentar um programa abrangente de mudanças efectivas que devolvam às portuguesas e portugueses a esperança num país mais moderno e mais coeso, onde redistribuição e crescimento se equilibrem por via de uma economia remodelada e democratizada.
No terceiro ano do Governo Sócrates, entrou em perda a estratégia de governar ao centro mas apostando de facto numa política económica e social de direita. Esta orientação vem afinal afrontando a ampla maioria que a esquerda alcançou nas últimas eleições legislativas.
Falhou a tese de Sócrates de que a redinamização e expansão da economia se alcançaria com o recuo da produção pública assim criando supostas oportunidades para o capitalismo. Os fulcrais sectores da saúde, educação e segurança social públicos foram forçados a retroceder, mas nem assim os agentes capitalistas se dispuseram a investir. Para além da excepção dos investimentos na saúde, beneficiários directos das opções recessionistas no SNS e das parcerias público-privado, continuou o grande capital a preferir negócios de especulação financeira, golpes na banca e operações em paraísos fiscais, desviando das prioridades nacionais importantes recursos de investimento. O combate ao défice do Estado, permitindo embora algum equilíbrio financeiro à custa sobretudo do retrocesso no investimento, na transferência da despesa para os cidadãos, mas por melhorias também na administração fiscal, traduziu-se afinal no aumento das desigualdades, pobreza e desemprego. À crise económica em Portugal adiciona-se agora a crise internacional, fruto da especulação bolsista e dos créditos incobráveis concedidos sem garantias suficientes. A crise nacional radica na debilidade das classes dominantes, mas é igualmente fruto de um capitalismo europeu e norte-americano incapazes de sustentar a expansão da economia a não ser pelo estímulo ao crédito e ao endividamento das famílias. O país vê assim adiadas as suas expectativas pelo falhanço das apostas económicas do governo Sócrates e é esta tomada de consciência que explica, afinal, o enfraquecimento da base de apoio ao governo.
Não convenceu nem vingou a difamação e hostilidade contra determinados grupos profissionais por supostos privilégios corporativos, para afinal cobrir o ataque efectivo às próprias prestações sociais do Estado. Prestações essas cada vez mais olhadas e percebidas pela sociedade como fulcrais à coesão social. As populações mobilizam-se contra o recuo do Serviço Nacional de Saúde num processo de massas inédito em Portugal, mostram apego à escola pública e recusam o enfranquecimento da Segurança Social Pública.
O aumento do desemprego, a carestia e a estagnação dos rendimentos do trabalho fazem crescer os protestos, onde avulta a grande manifestação nacional da CGTP no Parque das Nações. É aliás de saudar a CGTP como grande central unitária dos trabalhadores numa altura em que concluiu o seu XI Congresso, contendo tentações de sectarização, em fidelidade ao figurino de massas para melhor enfrentar as necessidades de mobilização do movimento social. É sem dúvida no movimento social e popular, na sua diversidade e dinamismo, onde mais depressa amadurece a consciência que poderá desembocar numa alternativa.
Acentuou-se igualmente o divórcio entre a orientação do governo e a base política maioritária de esquerda no país. Esse divórcio vem originando uma crise na representação partidária tradicional, com críticas à falta de transparência dos opacos aparelhos partidários e exprime-se com vigor no interior do próprio partido do governo onde cresce a vontade de sectores socialistas em reclamar uma inflexão política. Os movimentos de crítica no âmbito do activismo político à esquerda mostram como é imperioso conquistar em novos moldes a representação das inquietações que perpassam pela sociedade portuguesa.
O avolumar da crise na governação de Sócrates forçou uma remodelação governamental para controlar os prejuízos de ministros fustigados, em concreto do Ministro da Saúde. Se correspondesse a uma real rectificação, teria o Primeiro Ministro procedido a uma efectiva negociação com quem exige mudanças e daria sinais de efectiva correcção do rumo da governação. A remodelação foi afinal limitada e está pontuada de resto por uma retórica continuista mesmo que muitos admitam alguma cosmética relativa à nociva política de Saúde de Correia de Campos. A prova de que a remodelação recusa a exigência de mudanças estruturais, embora constituindo um sucesso da oposição à esquerda e da movimentação popular,estará no prosseguimento do movimento crítico a partir do interior do PS.
Para a Renovação Comunista a crise para onde o governo de Sócrates lentamente desliza impõe reorganizar e renovar a representação das classes e camadas hoje em choque com a política do governo. Um tal processo pressupõe a ruptura com a excessiva competitivivade entre as formações políticas à esquerda, e dar assim lugar ao debate criativo em articulação com as reclamações populares expressas nas cada vez mais intensas movimentações a que o país assiste.
Amanhã é tarde de mais...
Concordo genericamente (o txt é tb ele um bocado genérico, mas compreendo que no momento ainda não seja possível e até desejável aprofundar mt mais) com a vossa análise e destaco aquilo que acho fulcral neste momento:
- Criar um programa/plataforma em torno do qual toda a esquerda politico-social se polarize para se constituir como alternativa de poder real em relação ao bloco central.
Seria um crime não aproveitar este momento em que quer o PS oficial, quer a direita partidária estão descredibilizados, um momento em que as várias esquerdas ganham força, no entanto é preciso polarizar o falado "descontentamento difuso". Esta é para mim o principal desafio do presente aqui em Portugal.
Já agora convido-vos a ler estes dois textos:
http://mundoemguerra.blogspot.com/2008/03/ruptura-democrtica-de-esquerda.html
http://mundoemguerra.blogspot.com/2008/02/o-caminho-que-j-se-faz-tarde.html