17 DE MAIO DE 2014, SÁBADO
Intervenção de Paulo Fidalgo na cerimónia de acordo da RC com o Partido Socialista
Transcrevemos a intervenção de Paulo Fidalgo na cerimónia de acordo entre a RC e o Partido Socialista
Caros amigos do Partido Socialista, Caro António José Seguro.
Permitam-me dar-vos conta do empenho do nosso camarada, Carlos Brito, na concretização da convergência com o Partido Socialista. Sabem que ele vive no interior profundo, e custa-lhe vir a Lisboa. Mas ele é o primeiro de nós a puxar o entendimento para a frente.
Amigos
Só se fazem compromissos entre gente diferente e nós somos organizações com percursos próprios. A arte contudo é aproximar pontos de vista, e dar um sinal para uma saída política, para o país e para a Europa.
Há um contexto singular, acelerador da convergência, desde sempre tão difícil entre a esquerda e o centro-esquerda.
É que três anos de austeristarismo, levaram o país à devastação e humilharam a nossa nobre gente.
Na Europa, a crise adensa-se e o desemprego é gigante.
Despertam inclusive os tons castanhos, da extrema-direita, cavalgando a miséria provocada pela crise. Tudo acontece porque, em vez de estímulo económico, solidário, se dá preferência aos juros do capital fictício, ao liberalismo dos hedge funds, à especulação bolsista e à pirataria dos off-shores. Tudo isto acontece pelo declínio moral nas lideranças que se acomodam ao egoísmo da alta finança, destruidora do sonho de um continente solidário, de paz e prosperidade.
O que nos move é a emergência europeia e nacional. Mas é também um ato de insubmissão para romper a corrente de governos austeritários na Europa. É uma tomada de consciência na esfera política, impulsionada todavia pela luta dos portugueses nestes 3 anos, que tudo fizeram, para que fosse parado o austeritarismo e se conquistasse uma viragem política. O povo cumpriu o sua função! Agora é a hora das organizações corresponderem à vontade popular.
Sem acordo, político, todo o esforço dos portugueses arriscaria a desaguar nas areias inconsequentes da abstenção. Nem se desbravariam portas novas para um governo novo, tão necessário, lá mais à frente. Nós queremos que os portugueses votem massivamente porque a sua escolha assertiva, ressoará no futuro imediato, a 25 de maio, com o início do fim deste maioria, que desejamos. Nós queremos mesmo começar a resolver isto! Queremos iniciar o retorno à esperança. Para que se saiba, em Bruxelas, em Berlim, e em S. Bento, que esta política tem de ser mudada.
Para a Renovação Comunista está em causa romper com o bloqueio que há décadas assombra a esquerda e que a impede de encetar um diálogo com o Partido Socialista. Nós queremos ajudar a dar caça aos fantasmas da esquerda que a remetem à inoperância.
Essa tem sido a nossa conduta desde há 11 anos. Foi essa, a nossa divergência com o PCP. Agimos para romper a nefasta “política da esquerda contra a esquerda” e contra o centro-esquerda. Fomos ativos na convergência em Lisboa para derrotar Santana Lopes, estivemos na convergência na Câmara do Porto, com o PS, estivemos na candidatura de Manuel Alegre, fomos parte ativa, ainda agora, no ensaio do movimento 3D.
E somos naturalmente fiéis aos nossos fundadores. Não por nostalgia, mas porque honramos o legado de João Amaral e Edgar Correia de sermos fiéis ao milagre do 25 de Abril e de batalhar, com todas as forças, para honrar a geração de Abril.
Houve um tempo em que os acordos com os socialistas foram exaltantes como no III Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro, em 1973, ou na saudosa coligação PS-PCP na Câmara de Lisboa. Houve também momentos dilacerantes de divergência. E houve dramas a preceder os compromissos, como a história de um sapo que foi necessário engolir para votar em Mário Soares, a troco de se impedir a direita de ganhar.
Nós estamos aqui, contudo, no sincero desejo de ir além do mero contra-gosto de um sapo indigesto. Desejamos superar a crise e favorecer uma transformação real, na Europa e em Portugal em diálogo com os socialistas.
Nós combatemos o austeritarismo, enquanto teoria económica errada e por ser a expressão dos interesses especulativos. Mas divergimos frontalmente da ideologia das classes privilegiadas que promovem o consumismo e a futilidade, geradores de desperdício, e de agressões à natureza. Percebemos que o que a direita quer é esconder os responsáveis pela corrupção, e os que arruínam quem trabalha. Que fique claro: nós combatemos o consumismo, e o despesismo predadores porque defendemos a inclusão dos povos e regiões deprimidas no perímetro da civilização e do bem-estar. A democratização do bem-estar depende da redistribuição e não se compadece com o consumismo e a futilidade das classes privilegiadas.
Com o presente acordo queremos sinalizar uma saída para a grave crise em que o país se encontra. Mas queremos que seja também um ensaio para convergências com as outras forças de esquerda que não desistimos de continuar a procurar.
Agora, meus amigos, é trabalhar para uma grande vitória a 25 e Maio.