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26 DE SETEMBRO DE 2008, SEXTA FEIRA
“O Socialismo Traído”
Jorge Nascimento Fernandes
Tanto para as Teses que a Direcção do PCP irá apresentar no XVIII Congresso daquele Partido como para os autores de um livro recentemente publicado pela Edições Avante! a queda da União Soviética deve-se à traição dos seus dirigentes. Neste livro defende-se que desde a subida de Khruchov ao poder que uma linha de direita vinha progressivamente tomando conta do Partido. Jorge Nascimento Fernandes analisa a entrevista que aqueles autores deram ao Avante!
Foram publicadas ontem, como anexo ao Avante!, as Teses que a Direcção do PCP irá apresentar no XVIII Congresso daquele Partido. Tentá-las-ei ler e dar, em artigo futuro, a minha opinião. Não me limitarei à notícia que foi publicada no Público, que fala em “traição de dirigentes” como causa da derrota da URSS, tentarei, se para isso tiver forças e entusiasmo, apreciar outros pontos.
Hoje regresso a um tema já por mim abordado que é o livro que foi publicado pelas Edições Avante!, que tem como título o Socialismo Traído. Por trás do colapso da União Soviética. Como se pode concluir pelos termos comuns utilizados, as Teses têm uma relação directa com as preocupações manifestadas naquele livro. A terminologia usada nas Teses é mesmo “a traição de altos responsáveis do Partido e do Estado”, e ao contrário do que diz o Público, para quem esteja interessado em consultá-las, esta transcrição não é feita da página 15, mas da 17.
O Avante! desta semana traz uma entrevista com os autores daquele livro, Thomas Kenny, economista, e Roger Keeran, historiador, militantes comunistas norte-americanos, bastante elucidativa de como o órgão oficial do PCP encara hoje o fim da União Soviética.
Da entrevista é de realçar, como já o tínhamos feito a propósito do livro, a existência de duas tendências no PCUS: a de “direita”, “que defendia a incorporação de formas e ideias capitalistas”, e a de “esquerda”, que “apostava na luta de classes, num partido comunista forte e na defesa intransigente das posições da classe operária”, que os autores de forma mistificadora, comparam à linha menchevique e bolchevique existente antes da Revolução de Outubro. No artigo citado, eu já tinha referido quais os protagonistas de cada uma destas linhas. Poderíamos acrescentar a oposição entre Bréjenev e Andropov e Gorbatchov e Ligatchov, não referidas anteriormente. Os primeiros a representarem a direita e os segundos a esquerda.
Quanto aos períodos da história soviética em que cada uma destas linhas foi dominante os autores consideram que houve um primeiro período, nos anos 20, com a NEP, e com Bukharine, que afirmam que “ficou marcado não só pelo florescimento do capitalismo e dos sectores marginais e criminosos, mas também pelo alastramento de uma ideologia de direita, anti-socialista”. O que levado a letra justifica todos os abusos de Estaline ao mandar matar não só o seu principal ideólogo, Bukharine, como todos os aqueles que previamente foram classificados como marginais e criminosos.
Depois, segundo a entrevista, houve um “segundo período, mais prolongado e gradual”, que “teve início em meados dos anos 50, após a morte de Estaline. Khruchov foi a primeira peça deste puzzle.”
Como corolário destas afirmações o entrevistador conclui “praticamente todas as conquistas do socialismo que enumeraram na introdução do livro foram alcançadas em particular durante os anos 30, sob a direcção de Estaline…” e depois noutra pergunta acrescenta “mas se a tese do vosso livro está correcta, então as políticas de Estaline terão sido as mais correctas e as únicas que podiam garantir a construção do socialismo e defender as conquistas revolucionárias.” A que os autores respondem “o ódio a Estaline é tão cego e intenso que alguns críticos do nosso livro dizem que estamos errados e insistem que Estaline foi a causa do colapso da URSS”.
A terminar só gostaria de sublinhar o espantoso destas afirmações de que os ideólogos do PCP não se dão conta. Quando se defende que foi com Khruchov que começou a degenerescência do socialismo na URSS, está-se a retomar a velha tese maoista e “esquerdista” de que aquele político é o responsável pela instauração do capitalismo naquele país. No fundo andámos anos avalizar, com a ajuda de Cunhal, o comportamento da URSS, para virem agora os seus sucessores, como se nada se tivesse dito no passado, a publicarem no Avante! as velhas teses maoista sobre o fim do socialismo na URSS, com a ascensão da linha de direita, que na altura os pró-chineses chamavam revisionista.
A questão de Estaline, que parecia estar morta depois do XX Congresso do PCUS, e as teses maoistas que o pretendiam ressuscitar, e que tinham sido objecto de crítica severa, entram agora pela porta do cavalo, com pezinhos de lã, como se sempre no PCP se tivesse dito isto. É no fundo, como tenho afirmado, o sectarismo esquerdista a prevalecer.
É bom recordar também que nesta entrevista é retomada, sub-repticiamente, a velha tese estalinista que quanto mais o socialismo avança mais se agrava a luta de classes, o que serviu sempre para aquele político reprimir todos os seus opositores.
Não gostaria de terminar sem referir uma nota de rodapé com os dados biográficos de um dos apoiantes de Gorbatchov que foi citado na entrevista, Alekssander Iákovlev, cuja responsabilidade deve ser do entrevistador. Em que depois da descrição de um conjunto de malfeitorias que seriam da sua responsabilidade é dito que “faz publicar uma série de romances de escritores dissidentes e anti-soviéticos, bem como cerca de 30 filmes antes proibidos.” E termina, como justificando este excesso de liberalismo, “em Agosto de 1991 anuncia a decisão de abandonar o PCUS”. Como se não fosse um título de glória para alguém libertar filmes que anteriormente estavam proibidos. Este entrevistador nem sabe como os portugueses que conheceram o fascismo odeiam aqueles que lhes proibiam filmes.

PS.: A imagem que ilustra este post é de Bukharine, que tão vilipendiado é neste livro. Uma pequena homenagem a um dos heróis do movimento comunista. Mandado assassinar legalmente por Estaline.


 
RENOVAÇÃO COMUNISTA
Enviado por HENRIQUE MOTA, em 18-08-2009 às 16:08:17
Senhores comunistas arrependidos.
Estão fazendo o mesmíssimo papel que outros arrependidos fizeram em Espanha, Itália, França, e por aí fora.
"Adoro" as vossas análises políticas, com esse chavão da "Democracia Socialista" (que eu rectifico para Social-Democracia).
Muitos dos senhores, foram membros do C.C. do PCP; é pena que só agora venham com tanta candura debitar novas teorias. É pena de facto, pois se o tivessem feito mais cedo, certamente que o PCP estaria mais forte, ou pelo menos, depurado de ervas daninhas.
Tenham vergonha, especialmente os que vivem da reforma de ex-deputados do PCP. Felizmente os trabalhadores sabem de que lado está a verdade. Continuem, que o "capitalismo" vos agradecerá!
Henrique Mota.
João Lopes
Enviado por Zé Atento, em 19-11-2008 às 14:44:26
Coitado deste João Lopes, não entende, não quer entender ou é mesmo assim.......................................
"Herói" Bukharine
Enviado por João Lopes, em 07-10-2008 às 22:16:08
Se eu não conhecesse a Renovação Comunista (RC), se não soubesse como e por quem foi gerada, bastar-me-ia saber que neste artigo, Bukharine é elevado ao patamar de "herói" do movimento comunista, para ficar esclarecido sobre quem são e o que pretendem os “renovadores”.
Bukharine será herói para alguns, sobretudo para os latifundiários.
Já agora uma pergunta: Já que a RC tanto invoca o "definhamento do PCP" o seu "enquistamento" e "sectarismo" e outros chavões prontos-a-usar, gostava de saber quem é que em Março último mobilizou uma manifestação com mais de 50 mil militantes e simpatizantes. Foi a Renovação Comunista? Alguma vez a Renovação Comunista saiu à rua? Nunca vi as vossas bandeiras. Alguma vez distribuíram um documento à porta de uma empresa para apanhar os trabalhadores do primeiro turno? Já mobilizaram as populações contra o encerramento de SAP's, maternidades e urgências? Qual é o vosso contributo na luta contra o código do trabalho? Artigos na net? É pouco. Ficamos esclarecidos sobre quem está enquistado e quem sai à rua. Quem está desencantado e quem continua a ter confiança nos trabalhadores, no socialismo, na bandeira vermelha.
"Herói" Bukharine
Enviado por Jjoão Lopes, em 07-10-2008 às 22:12:04
Se eu não conhecesse a Renovação Comunista (RC), se não soubesse como e por quem foi gerada, bastar-me-ia saber que neste artigo, Bukharine é elevado ao patamar de "herói" do movimento comunista, para ficar esclarecido sobre quem são e o que pretendem os “renovadores”.
Bukharine será herói para alguns, sobretudo para os latifundiários.
Já agora uma pergunta: Já que a RC tanto invoca o "definhamento do PCP" o seu "enquistamento" e "sectarismo" e outros chavões prontos-a-usar, gostava de saber quem é que em Março último mobilizou uma manifestação com mais de 50 mil militantes e simpatizantes. Foi a Renovação Comunista? Alguma vez a Renovação Comunista saiu à rua? Nunca vi as vossas bandeiras. Alguma vez distribuíram um documento à porta de uma empresa para apanhar os trabalhadores do primeiro turno? Já mobilizaram as populações contra o encerramento de SAP's, maternidades e urgências? Qual é o vosso contributo na luta contra o código do trabalho? Artigos na net? É pouco. Ficamos esclarecidos sobre quem está enquistado e quem sai à rua. Quem está desencantado e quem continua a ter confiança nos trabalhadores, no socialismo, na bandeira vermelha.

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